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Pesquisadores da área de finanças e de relações internacionais veem como positivos os investimentos de R$ 27 bilhões no país anunciados pela China na segunda-feira (12). O valor abrange a indústria automotiva, força renovável, inovação, mineração, bem-estar, logística e alimentos.


Há ponderações, porém, de que o administração brasileiro deve investir mais na diversificação de parcerias com outros países, em um contexto crescente de tensões e conflitos comerciais impulsionados pelos Estados Unidos.
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O anúncio dos investimentos foi feito no Seminário Empresarial China-país, em Pequim, com a participação do líder nacional Luiz Inácio Lula da Silva, de autoridades brasileiras e chinesas, e de mais de 700 empresários dos dois países.
“É um acordo interessante que está sendo construído com os chineses. É um movimento concreto na hora em que o [líder nacional dos EUA, Donald] Trump faz um tarifaço e cria situação de instabilidade nos mercados globais para várias economias”, segundo a professora de finanças da Pontifícia instituição de educação Católica de São Paulo (PUC-SP) Cristina Helena Mello.
“Imagino que Trump deva olhar para o país com alguns cuidados, e a gente espera que haja possibilidade de recente negociação e aproximação com os Estados Unidos, de forma propositiva e não de subordinação”.
Investimentos
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), os investimentos chineses de R$ 27 bilhões devem ser direcionados da seguinte forma:
- R$ 6 bilhões da montadora de veículos GWM para expansão de suas operações e exportações para a América do Sul e México;
- R$ 5 bilhões da Meituan, que promete gerar 100 mil empregos indiretos no setor de delivery;
- R$ 3 bilhões da CGN em um hub de força renovável no Piauí;
- R$ 5 bilhões da Envision na criação do primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina;
- R$ 3,2 bilhões da Mixue, com previsão de 25 mil empregos até 2030 com abertura de lojas de sucos e outras bebidas;
- R$ 2,4 bi da Baiyin, com a aquisição da mina de cobre Serrote em Alagoas;
- R$ 1 bilhões da DiDi, em infraestrutura de recarga para veículos elétricos;
- R$ 650 milhões da Longsys em semicondutores;
- R$ 350 milhões da parceria da Nortec Química com três empresas chinesas no setor farmacêutico.
Relações comerciais
De acordo com a Apex, 4,5% de tudo que a China importa sai do país. E 25% de tudo o que o país importa vem da China. O país asiático é o principal parceiro brasileiro. Em 2024, o comércio entre os países atingiu quase US$ 160 bilhões.
Foram US$ 94,4 bilhões em exportações brasileiras e US$ 63,6 bilhões em importações, um superávit de US$ 30,7 bilhões, 41,4% do saldo comercial total do país.
O país é o maior fornecedor para a China de bens essenciais como soja, carnes bovina e de aves, celulose, algodão e açúcar.
“Seria relevante que a gente melhorasse o perfil daquilo que a gente exporta para a China. Exportamos bens primários, da agricultura e da extrativa mineral. Há pouco espaço para a entrada de bens manufaturados brasileiros. Acho que isso é um ponto de atenção”, alerta a economista da PUC-SP Helena Mello.
“Também precisamos muito desenvolver a capacidade de logística brasileira de escoamento de bens para exportação. Isso nos garantiria posição de liderança em alguns mercados que hoje estão concentrados nas mãos dos Estados Unidos e outros mercados que nós competimos, mercados de grãos e de proteína animal”, complementa.
Para o educador de relações internacionais Roberto Uebel, é relevante que o país valorize as relações comerciais com a China, mas mantenha o histórico de diversificação de parcerias.
“O país precisa ter muito cuidado ao se aproximar da China nesse contexto de guerra tarifária, de não prejudicar as relações com os Estados Unidos. Precisa continuar diversificando parcerias para reduzir a dependência não só com os Estados Unidos, mas também com a China. Parcerias com o sudeste asiático, Índia, Japão. Esses dois últimos, que o líder nacional Lula visitou no começo do ano”, defende Uebel.
A lógica é compartilhada pelo educador Luís Renato Vedovato, da instituição de educação de Campinas (Unicamp).
“É muito relevante que o país vá por um caminho seguro, se afastando das instabilidades que se colocam no horizonte. Por isso, a aproximação do país com a China é sempre bem relevante. Como é relevante o acordo do país com o Mercosul e a União Europeia. Quanto mais irrigado estiver o país comercialmente, mais resiliência ele terá para enfrentar o futuro”, avalia Vedovato.