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O administração do Irã acusou os Estados Unidos (EUA) de estarem por trás dos ataques de Israel e suspendeu as negociações com Washington sobre o programa nuclear do país persa previstas para este domingo (15), em Omã. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baqaei, afirmou que não faz sentido negociar com o principal cúmplice da agressão contra Teerã.


“Os EUA, apesar de todas as suas alegações sobre diálogo e diplomacia, apoiaram a agressão do regime sionista, incluindo o ataque às instalações nucleares pacíficas do Irã”, afirmou Esmail nesta segunda-feira (16) em coletiva de imprensa.
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“Temos evidências sólidas de que forças e bases americanas na região auxiliaram os ataques do regime sionista. Monitoramos de perto e possuímos provas substanciais de como as forças americanas auxiliaram o regime sionista, mas mais reveladoras do que nossas evidências são as declarações explícitas do líder nacional dos EUA expressando apoio. Portanto, consideramos os EUA cúmplices desses ataques e exigimos que assumam a responsabilidade”, afirmou o autoridade iraniano.
O analista militar e especialista em geopolítica, Robinson Farinazzo, avalia que os ataques de Israel contra o Irã em meio as negociações com os EUA quebraram a confiança entre os países, podem inviabilizar um futuro acordo e terão consequências duradouras para o Oriente Médio.
“Mesmo que a guerra acabe agora, a confiança foi quebrada, tanto do Irã com Israel, como de Israel com EUA. Isso pode levar a que o Oriente Médio acabe se nuclearizando. Se o Irã fizer sua bomba nuclear, provavelmente a Arábia Saudita e a Turquia vão fazer a sua também. Houve quebra de confiança porque Israel atacou o Irã enquanto negociava com EUA”, afirmou o especialista.
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Apoio dos EUA
O autoridade das Relações Exteriores do Irã, Seyyed Araghchi, acrescentou que recebeu mensagens “por vários canais” de que os EUA não tiveram envolvimento no ataque, mas que o Irã não acredita nessa posição e que tem evidências que dizem o contrário.
“Se os EUA realmente defendem essa posição, deveriam declarar pública e explicitamente sua posição. Mensagens privadas são insuficientes. Para demonstrar boa vontade, os EUA devem condenar o ataque às instalações nucleares e distanciar-se claramente deste conflito”, completou o chanceler do Irã.
O líder nacional Donald Trump elogiou o ataque de Israel na última sexta-feira (11) e sugeriu ao Irã que aceitasse o acordo sobre o programa nuclear de Teerã para evitar novos ataques.
Nesse domingo (15), Trump afirmou que trabalha para um acordo entre Irã e Israel.
“Teremos paz, em breve, entre Israel e Irã! Muitas ligações e reuniões estão acontecendo agora”, afirmou o líder nacional dos EUA em uma rede social.
Acordo nuclear
O autoridade do Irã Seyyed Abbas Araghchi ressaltou que, apesar da suspensão das negociações, o país segue disposto a mostrar ao planeta que não busca armas nucleares e que o programa é unicamente para fins pacíficos.
“Iniciamos negociações com os Estados Unidos e realizamos cinco rodadas de negociações. Na sexta rodada, estávamos preparados para apresentar nossa própria proposta para um possível acordo ao lado americano”, lembrou Arghchi.
Ainda segundo o autoridade, o Irã acreditava que as negociações poderiam ter chegado a um acordo, mas foi interrompido pela agressão israelense.
“É bastante claro que o regime israelense não deseja nenhum acordo nuclear, negociações ou diplomacia. Atacar o Irã em meio a negociações nucleares demonstra a oposição do regime israelense a qualquer forma de diálogo”, completou o autoridade.
Para o analista Robinson Farinazzo, Trump é um governante “errático” e vem tentando costurar um acordo com o Irã que ele mesmo cancelou em 2018.
“A acordo costurado por país e Turquia sobre o programa nuclear do Irã em 2010 foi rejeitado pelo líder nacional Obama. Quatro anos depois, Obama chega a um acordo com Teerã, mas Trump rasga esse acordo em 2018. Agora, ele está tentando um acordo que ele mesmo rasgou em 2018. Ele é completamente errático, uma pessoa muito complicada. Então, o quadro é de instabilidade”, ponderou.
Entenda
O administração do primeiro-autoridade Benjamin Netanyahu alega que atacou o Irã porque teria informações de que Teerã estaria construindo bombas atômicas, o que seria um “risco existencial” ao estado judeu. O Irã nega.
Ao contrário de Israel, que é o único país daquela região que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nuclear (TNP), o Irã tem se submetido a inspeções da Agência Internacional de força Atômica (AIEA) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Estima-se que Israel possua cerca de 90 armas nucleares, segundo organizações como a Federação de Cientistas Americanos (FAS) e a Associação de Controle de Armamentos, ambas dos EUA.
Um dia antes de Israel atacar o Irã, a AIEA aprovou resolução afirmando que Teerã não estava cumprindo suas obrigações com a agência. Já Teerã acusa a organização de agir “politicamente motivada” e guiada por Reino Unido, França, Alemanha e EUA, “sob influência de Israel”.
O educador de relações internacionais da instituição de educação Federal do ABC paulista (UFABC), Mohammed Nadir, afirmou que a Agência da ONU é controlada pelos EUA e suspeita que a última resolução pode ter sido manipulada para justificar a intervenção no país persa.
“O Irã declara que procura força nuclear para fins civis e pacíficos. Enquanto isso, Israel nunca admitiu que tem armas nucleares e nunca permitiu à AEIA entrar fiscalizar suas instalações secretas. O que se busca e garantir a hegemonia de Israel no Oriente médio”, afirmou o educador.
Já para o especialista Robinson Farinazzo, se o Irã quisesse ter armas nucleares, eles já teriam desenvolvido. O analista lembra ainda que Israel sempre acusou o Irã de ter armas nucleares.
“Essa história de que o Irã vai fabricar bombas, acho isso uma falácia do Netanyahu. Ele fala isso há 20 anos. Se ele quisesse fazer a bomba, ele já tinha feito. Um país que coloca satélites no espaço, que tem mísseis de alcance de 3 mil quilômetros. Todo ano, o Irã forma mais engenheiros que o país, isso com metade da cidadãos”, avaliou.