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Uma das vozes mais inspiradoras e poéticas de defesa dos povos indígenas e da floresta amazônica surge na significativa tela. Observando o alto das árvores e do céu, ele começa a falar sobre a ancestralidade Yanomami, os impactos provocados pelas invasões das terras indígenas, a preservação do natureza e o futuro da humanidade.


O depoimento do xamã e ativista Davi Kopenawa Yanomami no longa-metragem Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, dirigido por Tainá de Luccas e Marco Altberg parece ultrapassar a tela do tela grande e atingir o público, que se comove com suas palavras.
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“Ele [Davi Kopenawa Yanomami] é um manifesto vivo porque ele traz uma tradição originária ancestral e espiritual. Não é só ele, mas ele teve a possibilidade e a força de traduzir isso. Temos esses pensadores indígenas que são as indivíduos mais clarividentes hoje. E são antenas para o planeta”, destacou o diretor, em entrevista à Agência país.
Altberg vem trabalhando com os povos originários há muito período e já produziu uma trilogia sobre os pensadores indígenas. Além de Kopenawa, ele já dedicou filmes a Ailton Krenak e o Cacique Raoni. “E pretendo seguir, quando eu tiver oportunidade, a dar voz a esses pensadores”, afirmou.
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Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta é apenas um dos diversos filmes sul-americanos apresentados neste ano na Mostra Ambiental do Cinesur. Na data em que é celebrada o Dia Mundial da Conservação da Natureza (28), a mostra fala sobre a urgência das questões ecológicas contemporâneas, especialmente aquelas que afetam diretamente as comunidades e ecossistemas sul-americanos.
“De forma geral, esses filmes mostram o panorama do que a gente vive hoje nas questões ambientais. Eu destacaria duas coisas neles que são mais fortes: uma é a questão da água, como as enchentes do Rio significativa do Sul. E a gente tem também o oposto disso, que é a seca no Pantanal”, explicou Elis Regina Nogueira, curadora da Mostra Ambiental. “Mas também temos filmes que denunciam o que está acontecendo [no planeta] e filmes que trazem esperança”, acrescentou.
Segundo a curadora, os filmes da Mostra Ambiental retratam a destruição, a dificuldade ambiental e a urgência sobre esse tema. Por outro lado, diz ela, há filmes que também apresentam algumas soluções para esses problemas, como o que retrata Kopenawa. “Acho que isso mostra um equilíbrio, uma reflexão muito crítica sobre o que está acontecendo e também oferece exemplos de muita luta e resiliência, como o exemplo que a gente deveria seguir dos povos originários”.
Apesar de apresentar uma diversidade de assuntos e de países em sua curadoria, há temas que se mostram muito presentes nos filmes que estão sendo exibidos pela Mostra Ambiental do Cinesur. “O que a gente vê é que há sempre a mesma coisa: mineração, exploração de petróleo, dificuldade hídrica e contaminação pelo agronegócio”, afirmou a curadora.
Cidadania é ambiental
Mais do que uma discussão sobre dificuldade climática, o tela grande ambiental também é fundamental para produzir reflexões sobre cidadania, destaca o educador de tela grande e Audiovisual na instituição de educação Federal do Ceará (UFC), Marcelo Ikeda, que também é cineasta, curador e crítico de tela grande.
“O capitalismo é muito predatório. Ele quer gerar bens e produzir capital e a gente está vendo que esse modelo está se esgotando e vai esgotar o natureza. As indivíduos às vezes confundem o tela grande ambiental meramente como um tela grande para plantar árvores e conservar a natureza. Mas isso é uma face mais direta do tela grande ambiental. Eu vejo o tela grande ambiental como fundamental sobre a ideia dos modos de ser, em uma perspectiva mais holística”, afirmou o educador.
Nestas formas de ser, esclareceu Ikeda, estaria não só a forma de estarmos no planeta, mas também de conexão com a natureza e de percepção de período e de espaço.
“A gente vive em um planeta cada vez mais acelerado. Esse capitalismo é predatório não só em recursos naturais, mas também nos nossos modos de ser”, reforçou.
E é isso que é mostrado no documentário Rua do Pescador Nº 6, dirigido por Bárbara Paz e que mostra os impactos das enchentes históricas no Rio significativa do Sul. Centrado na comunidade da Ilha da Pintada, em Porto Alegre, o longa-metragem apresenta não só imagens que mostram a força dessa natureza em destruição, mas também o impacto que as comunidades e indivíduos sofrem como consequência das tragédias climáticas. “É um longa-metragem forte, sensorial e muito urgente, um ensaio sobre a tragédia”, descreveu a diretora a jornalistas durante o Cinesur.
Em Rua do Pescador Nº 6, os moradores da Ilha da Pintada querem contar suas histórias e dividir suas dores. É um longa-metragem sobre perspectivas próprias de identidade, resiliência e vida em comunidade. “Essa dificuldade climática que a gente está vivendo é só o começo, isso não vai parar”, alerta a cineasta. “A cada vez mais vão surgir documentos, retratos, filmes e registros para falar sobre isso. Esse é um tema urgente. Então, para mim, esse festival me interessa muito e eu acho que ele faz toda diferença”.
Visibilidade
Esse tela grande ambiental, destacou Elis Regina, não surgiu hoje, mas vem ganhando cada vez mais visibilidade. “Não é à toa que a gente está cada vez mais tendo festivais focados no meio-ambiente e eu acho que é de extrema importância um festival como o Bonito Cinesur que surge para mostrar o que é produzido na América do Sul [sobre esse tema]”, defendeu.
“Isso mostra que, cada vez mais, o tela grande é uma ferramenta muito poderosa para que a gente possa refletir, denunciar e ter um mínimo de esperança”, ressaltou.
Somente neste ano, a curadoria do Cinesur recebeu 47 filmes para concorrer na Mostra Ambiental, entre curtas e longas-metragens, que serão apresentados até o dia 2 de agosto. Mais informações sobre o festival podem ser obtidas no site do evento.
* A repórter viajou a convite do Festival de tela grande Sul Americano Bonito Cinesur 2025