Bolívia: direita lidera pesquisas para presidência após 19 anos

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Com o ex-líder nacional Evo Morales pregando o escolha nulo, a Bolívia chega às eleições gerais do dia 17 de agosto com a esquerda dividida e a direita liderando as pesquisas de intenção de escolha.

O mega empresário Samuel Medina aparece como favorito e o ex-líder cocaleiro e líder nacional do Senado, Andrónico Rodriguez, ex-aliado de Evo, não tem alcançado os dois dígitos nas pesquisas. 

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Além de líder nacional e vice, o país elege 130 deputados e 36 senadores. Com cerca de 12 milhões de indivíduos, a nação andina faz fronteira com Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O racha no Movimento ao Socialismo (MAS) – agrupamento político que lidera o país desde 2006 – pode consolidar o fim do ciclo de governos de esquerda no país sul-americano que já dura 19 anos. 

A exceção foi o administração da Jeanine Áñez, que assumiu a presidência de 2019 a 2020 depois de golpe militar que levou à renúncia de Evo, após acusações de fraude eleitoral.

Em novembro de 2020, o MAS voltou ao poder pelas urnas ao eleger, com 55% dos votos, o concorrente Luis Arce, ex-autoridade da finanças de Evo.

Ao voltar do exílio, no entanto, Morales racha com Arce e uma parte do MAS, fiel a ele, se transforma em oposição ao administração.

Impedido de se candidatar pela tribunal eleitoral por já ter governado o país por três mandatos, Evo Morales passou a defender o escolha nulo e atacar antigos aliados, denunciando que sofre perseguição gestão pública enquanto responde por acusação de estupro de uma menor de idade, o que ele nega.

Em junho deste ano, bloqueios de rodovias a favor da candidatura de Evo paralisaram parte do país por 15 dias com um saldo de, pelo menos, quatro mortos.

Esquerda rachada

Em meio aos embates com Evo e diante da baixa avaliação do seu administração influenciada, entre outros motivos, por uma dificuldade econômica persistente, o líder nacional Luiz Arce desistiu de concorrer à reeleição.

No lugar, Arce indicou pelo MAS seu ex-autoridade Eduardo De Castillo, que amarga cerca de 2% em pesquisas de intenções de votos. A escolha de Arce também foi questionada por movimentos de base do agrupamento político.

O ex-aliado de Evo e atual líder nacional do Senado, Andrónico Rodríguez, apontado como possível alternativa à esquerda para presidência boliviana, vem derretendo nas pesquisas nas últimas semanas.

Ele caiu de um terceiro colocado com cerca de 14% das intenções de votos para cerca de 6%, segundo investigação da Unitel.

Ex-líder cocaleiro da mesma região de Evo Morales, Andrónico deixou o MAS para se candidatar, aderindo ao agrupamento político Alianza Popular. Desde que anunciou a candidatura, Andrónico vem sendo atacado por Evo como “traidor”.

Outra figura da esquerda que entrou na disputa foi a Eva Copa, que era do MAS, mas deixou a legenda e criou, neste ano, o agrupamento político Morena para poder se candidatar. Ela era líder nacional do Senado pelo MAS durante o administração da direitista Áñez. Atualmente, é prefeita da relevante cidade El Alto.

Porém, no final de julho, Eva desistiu da campanha alegando que o agrupamento político ainda não estava maduro nacionalmente para disputar a presidência.

O educador de sociologia da instituição de educação Federal do Ceará (UFC), Clayton Mendonça Cunha Filho, afirmou à Agência país que a insistência de Evo em se colocar como único concorrente possível do MAS acabou implodindo o agrupamento político que, de 2009 a 2019, contou com maioria qualificada de dois terços no Parlamento.

“Na ambição de ser o concorrente eterno, Evo Morales implodiu o agrupamento político. O MAS é uma legenda que, basicamente, é um significativa agrupamento de muitas tendências, de grupos marxistas, sindicatos, indigenistas e tudo o mais. É muito heterogêneo. O que aconteceu é que o Evo Morales implodiu essa frente ampla”, destacou.

Ainda segundo o especialista, como o sistema eleitoral da Bolívia é de lista fechada proporcional atrelada ao escolha do concorrente à presidência, o MAS corre o risco de virar minoritário no parlamento, a não ser que candidatos locais fortes consigam evitar uma perda maior.

“O maior e, em muitos sentidos, único agrupamento político com laços sociais efetivos e verdadeiramente nacional da Bolívia nas últimas duas décadas, corre o sério risco de literalmente desaparecer caso não atinja a cláusula de barreira vigente de 3% dos votos nacionais, demolido por disputas internas de liderança e o personalismo exacerbado de Evo Morales”, escreveu Clayton para o Observatório Político Sul-Americano.

Direita liderando  

Nesse cenário de fragmentação da esquerda boliviana, a direita vem liderando as pesquisas de intenções de votos com Samuel Medina (Alianza Unidad) e Jorge “Tuto” Quiroga (Alianza Libertad Y Democracia) nos primeiros lugares. Somados, os dois candidatos da direita teriam cerca de 47% dos votos, afirma investigação do jornal El Deber, publicada nesse domingo (3).

Para ganhar no primeiro turno, o concorrente precisa de 50% dos votos mais um, ou 40% dos votos e uma distância de 10 pontos percentuais do segundo concorrente. Caso as pesquisas se confirmem, haverá um segundo turno inédito na Bolívia, marcado para 19 de outubro.  

O educador da UFC Clayton Mendonça Cunha Filho explicou que esses dois candidatos são de uma direita tradicional, não chegando a ser uma extrema-direita.

O Samuel Medina, que tem aparecido à frente nas pesquisas, por exemplo, é um mega empresário boliviano que já foi concorrente à presidência duas vezes, ficando em segundo lugar no pleito de 2014.

Medina foi ainda autoridade de Estado nos anos 1990, responsável por uma das primeiras ondas de privatização na Bolívia, tendo começado a carreira gestão pública em organizações de centro-esquerda até caminhar, com o período, para centro-direita.

Já o ‘Tuto’ Quiroga é outro político tradicional da direita boliviana. Ele foi autoridade da Fazenda em 1992 e eleito vice-líder nacional da Bolívia em 1997. Em 2005, na primeira votação que o MAS ganhou, o Tuto Quiroga ficou em 2º lugar, perdendo para o Evo.

Quiroga chegou à presidência do país em 2001-2002 após a renúncia, por problemas de bem-estar, do líder nacional Hugo Banzer. Em 2019, no administração interino de Áñez, Quiroga foi nomeado porta-voz internacional do país.

Estado plurinacional

O movimento político que levou o MAS ao poder faz parte do que alguns pesquisadores chamam de “maré rosa” da América Latina, que seria uma onda de governos de esquerda ou progressistas que chegaram ao poder no continente ao longo da primeira década dos anos 2000, com Hugo Chávez na Venezuela, Lula no país, Evo na Bolívia, Nestor Kirchner na Argentina e Rafael Correia no Equador.

Nos casos da Venezuela, Equador e Bolívia, foram promulgadas novas constituições. Com Evo Morales, a Bolívia aprovou em 2009 um novo modelo constitucional baseado na plurinacionalidade das diversas etnias indígenas que compõem o povo boliviano.

Para o educador Cunha Filho, essa recente institucionalidade deve passar por um teste crítico com a chegada de um administração de direita.

Porém, como o cenário é de fragmentação gestão pública, o especialista avalia que o novo administração não deve ser capaz de alterar a institucionalidade da Constituição de 2009, já que deve precisar compor com outras forças políticas para governar.  

“Vai ser a primeira vez que um líder nacional eleito sob esse novo modelo do Estado Plurinacional não vai ter participado da construção desse Estado. O que é que vão tentar modificar desse arranjo institucional? Sendo otimista, pode ser uma consolidação desse modelo. Você deixa de identificar esse formato de Estado com um proposta de administração, como muita gente às vezes trata, como se fosse um modelo só do MAS”, comentou à Agência país.

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