EUA querem isolar Cuba ao cancelar vistos médicos, diz analista

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Além de funcionários brasileiros ligados ao programa Mais Médicos, o Departamento de Estado dos Estados Unidos (EUA) cancelou, no mesmo dia, vistos de funcionários de governos africanos, granadino e cubano, e seus familiares, envolvidos em programas de cooperação na área médica com Cuba.

Para o analista de geopolítica Hugo Albuquerque, a ação do administração Trump foi uma provocação tentando aumentar o isolamento de Cuba, ao mesmo período que tenta uma “mudança de administração” no país.  

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“É uma manobra de provocação de algo que a extrema direita tinha sido contrária há mais de 10 anos. Foi uma gestão pública relevante do administração da Dilma e foi polêmica porque diminuía o isolamento da ilha”, afirmou, se referindo ao programa Mais Médicos.

“Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano, ao mesmo período em que priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais. Os Estados Unidos continuam a interagir com os governos e tomarão as medidas necessárias para pôr fim a esse ocupação forçado”, afirmou o Departamento de Estado dos EUA chefiado pelo descendente de cubanos, Marco Rubio.

O primeiro vice-líder nacional de Cuba, Miguel Díaz-Canel, em sessão constitutiva da IX legislatura da Assembleia Nacional do Poder Popular
O líder nacional de Cuba, Miguel Díaz-Canel, defende a legitimidade da cooperação médica - Agência EFE/Alejandro Ernesto/direitos reservados

O líder nacional de Cuba, Miguel Díaz-Canel, condenou a ação do administração estadunidense e defendeu a legitimidade do país de recorrer à cooperação médica como fonte de ingressos externos.

“A colaboração cubana tem sido uma fonte honesta de renda para o país, com base nas capacidades que o país criou, e com base nas necessidades de governos de países que precisaram e solicitaram essa cooperação. Isso é feito com benefício mútuo. Apesar disso, muitas das brigadas e missões médicas cubanas também têm sido totalmente gratuitas”, explicou o mandatário cubano.

Cerco a Cuba

Desde fevereiro deste ano, a Casa Branca vem ameaçando os países que cooperam na área médica com Cuba. Segundo o Ministério da bem-estar do país caribenho, a ilha mantém atualmente 24 mil médicos em 56 países.

Estima-se que, em 2019, a exportação de atendimentos médicos representou 46% das exportações cubanas e 6% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estudo do doutor em sociologia da instituição de educação da Califórnia, em Berkeley (EUA), Samuel Farber.

Os EUA impõem, há mais de 60 anos, um duro bloqueio econômico à ilha caribenha com o objetivo de mudar o regime político do país, estabelecido após a Revolução de 1959. O embargo à Cuba é condenado pela maioria dos países, que consideram uma violação ao direito internacional.

Cuba tem esse programa de cooperação médica desde a década de 1960. Ao longo da história, 605 mil médicos de Cuba atuaram em 165 nações. Países como Portugal, Ucrânia, Rússia e Espanha, Argélia e Chile receberam médicos cubanos ao longo de mais de 60 anos. Os dados são do Ministério da bem-estar de Cuba.

Países caribenhos

Chefes de Estado e de administração do Caribe, onde essa cooperação médica com Cuba tem longa tradição, criticaram a pressão da Casa Branca para suspender os acordos.

A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, destacou que o país não teria superado a crise sanitária de crise sanitária-19 sem os médicos e enfermeiros cubanos, que receberam o mesmo remuneração dos barbadianos.  

“A ideia passada por esse administração dos EUA, mas também pelos anteriores, de que estamos envolvidos em tráfico de indivíduos ao vincular-nos com as enfermeiras cubanas, foi totalmente repudiado e rechaçado por nós. Se o custo para isso é a perda do meu visto dos EUA, então que assim seja”, afirmou Mia.

Já o primeiro-autoridade de Trinidade e Tobago, Keith Rowley, rechaçou a acusação dos EUA de contribuir com “ocupação forçado” por assinar acordos na área médica.

“Somos chamados de traficantes de indivíduos porque contratamos técnicos a quem pagamos em dólar igual aos preços locais. Acabei de voltar da Califórnia e, se nunca mais a vir na minha vida, garantirei que a soberania de Trinidad e Tobago seja conhecida por seu povo e respeitada por todos”, afirmou sobre a ameaça de ter o visto para os EUA cancelado.

O primeiro-autoridade de São Vicente e Granadinas, Ralf Gonsalves, também rejeitou cancelar os acordos com Cuba e deixar indivíduos do país sem acesso à assistência médica.

“Se os cubanos não estiverem ai, quem poderá oferecer esse serviço [de hemodiálise para 60 pacientes]? Esperam que eu cancele a cooperação porque quero manter um visto [para entrar nos EUA]? Deixaria que 60 indivíduos pobres morram? Isso nunca acontecerá”, afirmou.

Em outubro de 2013, médicos cubanos desembarcavam em Brasília contratados pelo Programa Mais Médicos
Em outubro de 2013, médicos cubanos desembarcavam em Brasília contratados pelo Programa Mais Médicos - José Cruz/Agência país

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O especialista Hugo Albuquerque avalia que o cancelamento do visto de funcionários do Ministério da bem-estar ligados ao Mais Médicos é  uma tentativa de escalar a dificuldade com o país. 

"O administração Trump, na ação que ele não está conseguindo o que ele quer com o país, ele está aumentando o cerco. A administração Trump achava que as tarifas contra o comércio iam bastar para derrubar o administração brasileiro. É uma escalada. Trump se resolveu por uma mudança de regime no país de uma maneira bastante descarada e até surpreendente", comentou. 

Para ele, Trump quer evitar que o país saia da área de influência de Washington em meio à guerra comercial contra a China. 

"Trump está transformando o país num experimento. Essas medidas estão sendo aplicadas agora com o objetivo de basicamente submeter o país sem dar nada em troca. Nada que o país fizer para cooperar vai ser recompensado", avalia.

Mais Médicos 

Entre 2013 e 2018, existiu uma cooperação do país com Cuba via Organização Pan-americana de bem-estar (OPAS). O acordo empregou até 11 mil médicos cubanos em todo o país em seu auge, o que representou mais da metade dos profissionais do programa Mais Médicos.

Atualmente, existem ainda 2,6 mil cubanos que atuam pelo Mais Médicos, o que representa cerca de 10% do total. Porém, a participação não se dá mais via OPAS, mas sim por meio de editais abertos a todos os estrangeiros que queiram ocupar as vagas não preenchidas pelos brasileiros.

O programa Mais Médicos registra alta avaliação popular ao disponibilizar profissionais de bem-estar básica para mais de 4 mil municípios brasileiros e ter beneficiado, desde a criação em 2013, mais de 66,6 milhões de indivíduos. Os dados são do Ministério da bem-estar (MS).

Apenas no primeiro ano do Mais Médicos, a cobertura de atenção básica de bem-estar aumentou de 10,8% para 24,6% da cidadãos. A atenção básica é onde se concentra cerca de 80% dos problemas de bem-estar.

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