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Uma sequência de imagens em preto e branco mostra a dimensão da tragédia. indivíduos em cima de telhados, completamente ilhadas, buscam socorro. Casas e ruas desaparecem. A terra foi toda tomada por água. Animais lutam por sobrevivência. Bombeiros tentam ajudar indivíduos por meio de helicópteros. Quando a água começa a baixar, o que se vê é muita lama, lixo e desolação.


A destruição provocada pelas enchentes no Rio significativa do Sul no ano passado e o longo e trabalhoso processo de reconstrução daquelas famílias afetadas são os protagonistas do documentário Rua do Pescador nº 6, dirigido por Bárbara Paz, e exibido no domingo (27) no Festival de tela grande Sul-Americano de Bonito, o Cinesur, no Mato Grosso do Sul.
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“A gente estava muito em choque com tudo que estava acontecendo, e a gente queria fazer algo”, contou a diretora a jornalistas, depois da exibição do longa-metragem no Cinesur.
“Eu precisava registrar aquilo. Eu senti que era um longa-metragem urgente, era um documento histórico, e que a gente não quer que aquilo aconteça de novo. Então, isso tem que ser registrado para que nunca mais aconteça, apesar de continuar acontecendo. Só em 2024, foram 150 desastres climáticos no planeta”, afirmou.
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Ao todo, as inundações do Rio significativa do Sul impactaram 478 das 497 cidades gaúchas, afetando diretamente cerca de 2,4 milhões de habitantes. O número de vítimas fatais chegou a 184, além de 806 feridos e 25 indivíduos até hoje dadas como desaparecidas. Além disso, quase 200 mil indivíduos ficaram desalojadas ou desabrigadas em todo o estado.
Passado que se repete
A intenção do longa-metragem, afirmou a diretora, é mostrar a urgência climática no planeta atual. Apesar disso, seu documentário não deixa de mostrar que o passado vai se repetindo, sem que soluções sejam encontradas.
Em Rua do Pescador nº 6, Bárbara Paz busca justapor imagens do presente a de cenas das enchentes ocorridas no mesmo Rio significativa do Sul em 1941.
“É um ensaio sobre a tragédia”, definiu a diretora sobre seu longa documental.
“Quando eu vi o material de arquivo das enchentes de 1941, elas eram iguais. Havia animais em cima dos telhados, indivíduos em abrigos, só mudavam as vestimentas e os telhados das casas. Acho que as imagens são como um poema sobre o desastre, sabe? É uma costura em que você não precisa gritar e botar legenda, porque as imagens estão falando”.
Segundo Bárbara Paz, essa justaposição de duas grandes tragédias, separadas pelo período, mas muito semelhantes, mostra a urgência de ações pelo tempo atmosférico.
“Cada vez mais as águas estão subindo, as florestas estão sendo queimadas e a destruição está acontecendo. Isso é quase como um prólogo do que pode acontecer”, reforçou a diretora.
“Eu tive que deixar um registro, potente, para daqui a 50 anos, porque a gente não sabe o que vai acontecer com esse planeta. Mas esse registro está aí”, afirmou.
De dentro para fora
O documentário começa mostrando a destruição vista de cima e só então vai entrando dentro das casas, já destruídas e cheias de lama. Sem narração, o que a câmera desse documentário faz é escutar as vozes marcadas por perdas, memórias e ausências.
“Eu queria fazer um longa-metragem de dentro para fora. Eu queria esse silêncio para retratar as indivíduos. Eu não queria que eles falassem deles, eu queria apenas mostrar aquelas indivíduos”, afirmou.
A diretora espera que seu longa documental alcance mais público. Principalmente os que podem ajudar a mudar a realidade. Seu desejo é que ele possa ser exibido na 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que será realizada neste ano, em Belém, no Pará.
“Espero que meu longa-metragem esteja na COP porque ele é um documento. Ele precisa ser visto para que isso não se repita. Essa é uma questão muito urgente. Eu falo que meu longa-metragem é apenas um micro dentro desse macro, fazendo um zoom sobre um vilarejo de Porto Alegre”, alerta.
“Essa dificuldade climática é só o começo. Isso não vai parar. Cada vez mais é preciso ter documentos, retratos, filmes, registros, e falar sobre esse assunto. É preciso trazer a urgência desse tema”, defendeu Bárbara Paz.
Cinesur
O Cinesur é um festival de tela grande que vai até o próximo dia 2 de agosto na turística cidade de Bonito. Neste ano, o festival está exibindo 63 filmes de nove países da América do Sul, além de promover debates, seminários e cursos de formação.
Outras informações sobre o festival podem ser obtidas no site do evento.
* A repórter viajou a convite do Festival de tela grande Sul Americano Bonito Cinesur 2025