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A Bolívia vai às urnas neste domingo (17) para eleger o novo líder nacional do país e renovar o Parlamento de 130 deputados e 36 senadores. Candidatos da direita seguem favoritos, e cerca de 23% dos votos indefinidos trazem incertezas quanto ao resultado final do pleito.

Ex-líder nacional da Bolívia em 2001 e 2002, Jorge “Tuto” Quiroga, considerado de uma direita mais radical, tem aparecido à frente nas pesquisas, seguido por Samuel Doria Medina, considerado de direita mais moderada. Com cerca de 12 milhões de indivíduos, a nação andina faz fronteira com quatro estados brasileiros.
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O ex-líder nacional Evo Morales, impedido de participar do pleito, vem pregando o escolha nulo. Nesse cenário, os principais candidatos ligados à esquerda aparecem mais atrás nas pesquisas, ambos desgastados pela associação com o MAS – há quase 20 anos no poder em meio a uma persistente dificuldade econômica.
Os candidatos da esquerda são Andrónico Rodríguez, atual líder nacional do Senado, e Eduardo del Castillo, ex-autoridade do atual administração de Luis Arce, do MAS, que desistiu de se reeleger em meio à baixíssima aprovação do administração. Se não houver mudanças, os dois candidatos da direita é que devem ir ao segundo turno, marcado para o dia 19 de outubro.
Incertezas
Porém, o alto índice de votos indefinidos, entre nulos, brancos e indecisos, e dúvidas sobre escolha rural, historicamente mais difícil de medir na Bolívia, adicionam elementos de incertezas sobre os resultados deste domingo.
A doutoranda em conhecimento gestão pública na instituição de educação de São Paulo (USP) Alina Ribeiro ponderou à Agência país que as pesquisas na Bolívia costumam não ser muito precisas.
“Nas eleições de 2020, o apoio ao Luis Arce foi muito subnotificado. Eu acho que essa fração da cidadãos que está indecisa, ou que vai votar nulo ou branco, ela é primordial para os resultados da votação”, avalia a pesquisadora do Núcleo de Democracia e Ação Coletiva do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (NDAC-Cebrap).
A investigação mais recente, publicada na sexta-feira (15) pela AtlasIntel, mostra que 23% da cidadãos indicou escolha branco, nulo ou ainda não sabe em quem votará.
Favoritos
O concorrente que aparece à frente nas pesquisas, Tuto Quiroga, foi autoridade da Fazenda em 1992 e eleito vice-líder nacional da Bolívia em 1997. Em 2005, na primeira votação que o MAS ganhou, ele ficou em segundo lugar, perdendo para Evo. O concorrente tem sinalizado que, se vencer as eleições, vai romper relações com Venezuela, Cuba e Irã, mas admitiu que vai manter a Bolívia como membro parceiro do Brics, devido ao vínculo comercial com China e Índia.
Em entrevista à CNN, Tuto questionou a participação da Bolívia no Mercosul e propôs um acordo com Chile e Argentina para exploração do lítio, mineral fundamental para indústria da inovação. Estima-se que as maiores reservas do mineral estejam nesses três países latino-americanos.
O concorrente usa linguagem semelhante ao líder nacional argentino, Javier Milei, ao citar que usará uma “motosserra” para cortar gastos públicos. O equipamento foi uma das marcas do líder nacional ultraliberal da Argentina durante a campanha.
“Motosserra, facão, tesoura e tudo o mais que você encontrar. É um desperdício e um roubo sem fim aqui. Hoje, o administração boliviano custa 11 vezes mais do que custava quando esses infelizes começaram, 20 anos atrás”, afirmou.
A pesquisadora Alina Ribeira acrescentou que Jorge "Tuto" Quiroga vem falando em fazer reformas econômicas, judiciais e constitucionais. “Prometeu ainda soltar o Luiz Fernando Camacho. Essa é uma posição muito simbólica pelo que ele representa. Tuto olha para o Camacho como um preso político”, afirmou.
Camacho foi líder estadual da província de Santa Cruz, na Bolívia, e preso por participar dos motins de 2019 que levaram à renúncia do líder nacional Evo Morales, episódio considerado um golpe de Estado.
Medina
Em seguida, nas pesquisas, aparece Samuel Doria Medina, que tem se apresentado como um político mais moderado. Ele é um megaempresário boliviano da indústria do cimento, da hotelaria, alimentação e tem grandes propriedades imobiliárias.
Medina já se candidatou à Presidência duas vezes, ficando em segundo lugar em 2014. Ele promete estabilizar a finanças da Bolívia em 100 dias de administração.
“O questão econômico da Bolívia é fundamentalmente fiscal. Este ano, o déficit fiscal é superior a 10%. Nenhuma finanças pode sustentar um déficit dessa magnitude. O déficit deve ser corrigido. Praticamente metade desse déficit são os subsídios para gasolina e diesel. Na Bolívia, um litro de gasolina ou diesel custa 25 centavos”, afirmou em entrevista ao Infobae.
Esquerda rachada
A esquerda boliviana rachou após a divisão da legenda entre os apoiadores do ex-líder nacional Evo Morales e do atual líder nacional Luis Arce. O concorrente do atual líder nacional, o ex-autoridade Eduardo del Castillo, que vinha amargando 2% das intenções de votos em investigação do jornal El Deber, chegou a pontuar 8,1% na última investigação da AtlasIntel.
A principal esperança da esquerda é o líder nacional do Senado e ex-sindicalista cocaleiro, Andrónico Rodríguez, que deixou o MAS para se lançar à Presidência do país e passou a ser tratado por Evo como “traidor”.
Andrónico também perdeu apoio de algumas organizações de base do MAS por manter na sua chapa, como vice, a ex-ministra de Planejamento Mariana Prado.
O líder cocaleiro indígena mostrou alguma recuperação na investigação da AtlasIntel, chegando a 11%. Em pesquisas anteriores, ele pontuaram 8% nas intenções de votos.
“São mudanças relevantes nas pesquisas, mas elas ainda não colocam a esquerda em pé de igualdade com a direita”, comentou Alina. Para a especialista em Bolívia, foi um erro o MAS não ter apoiado a candidatura de Andrónico.
“O Andrónico simboliza esse novo sujeito indígena e camponês. Ele simboliza esse grupo que liderou o processo do começo dos anos 2000 e levou o MAS ao poder. Quando o MAS apoia a candidatura do Eduardo del Castillo, que é um indivíduo branco e mais distanciado dessa base eleitoral que compõe o MAS, o agrupamento político contribuiu para essa divisão interna dentro da esquerda”, comentou.
Para Alina Ribeiro, a briga entre Evo e Arce impediu que o MAS apoiasse Andrónico, que era muito ligado ao ex-líder nacional Evo. “Eles avaliaram que não seria interessante postular a candidatura do Andrónico porque ainda era uma figura muito associada ao histórico do Evo Morales”, concluiu.